Recaatingamento

7/11/2022

‘Abelhas voltaram’: Premiado, projeto ‘recaatinga’ parte do sertão da Bahia

por

Uma das maiores iniciativas de restauração da Caatinga segue em curso na Bahia para alegria de dezenas de comunidades que estão vendo a mata renascer no sertão. Trata-se do projeto “Recaatingamento”, conduzido pelo IRPAA (Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada), organização de Juazeiro.

Tudo começou em 2009 quando mulheres perceberam que umbuzeiros novos não estavam nascendo mais e que, se o problema continuasse, a árvore logo estaria extinta na região. Capaz de armazenar até 1 mil litros de água nas raízes tuberosas, o umbuzeiro é apreciado pelas extrativistas que, todo ano, aproveitam a safra para fazer doces, geleias, compotas e até cervejas com o fruto agridoce.

Hoje, 35 comunidades tradicionais de 14 municípios estão sendo beneficiadas pela iniciativa conservacionista. Mais do que replantar espécies nativas, o projeto busca resgatar o valor sociocultural da Caatinga com a participação das comunidades.

As famílias reúnem-se em rodas de educação ambiental, dialogam, decidem em conjunto e botam a mão na massa.

“Este não é um projeto do IRPAA. É um projeto da sociedade e a gente trabalha a valorização da identidade para que as pessoas reconheçam-se como caatingueiras. Queremos mostrar também que a Caatinga em pé vale muito mais”, explica Luís Almeida, Coordenador Técnico da organização, lembrando que 50% do bioma encontra-se degradado.

Recaatingar, então, traz vários benefícios: “Evita a erosão, atenua a desertificação, restabelece a biodiversidade, restitui o microclima local, sequestra carbono da atmosfera, mantém o ciclo da água e garante alimentos, fibras e frutas, gerando renda?”, elenca Almeida.

Nas áreas de manejo, que somam mais de 30 mil hectares, são aplicadas técnicas simples para restauro do que foi depredado e conservação do que resta. Muitas vezes, as tecnologias baseiam-se no conhecimento tradicional que a própria comunidade possui. O projeto já ganhou um prêmio da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e outro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

No povoado rural de Lagoa Branca, em Campo Formoso, os moradores trabalham em mutirão para recuperar áreas degradadas por desertificação severa, onde voçorocas chegam a quatro metros de profundidade.

O estrago foi causado por décadas de superpastoreio, desmatamento e práticas agrícolas predatórias, como a superexploração das águas do rio Salitre, que passa ao lado. O quintal de Joselina Pimentel, presidente da associação quilombola local, está cheio de voçorocas ameaçando aprofundar-se em direção à casa.

No mutirão semanal, por volta de 15 moradores entre homens, mulheres e jovens reúnem-se para preencher os sulcos e ravinas com pneus usados, troncos, pedras e até folhas de sisal, criando “barramentos”.

A ideia é impedir que as chuvas de verão não aprofundem a erosão ainda mais, arrastando toneladas de terra para o leito do rio. “Quem sabe a gente possa ter o tatu-bola, o jacu e a raposa de volta, né?”, anseia Joselina.

Na Lagoa Branca, as mulheres ficam com o serviço mais leve, como demarcar as áreas que serão cercadas. Os homens ficam com a tarefa mais pesada, como fincar os mourões da cerca na terra batendo em marretas.

O objetivo é impedir que cabras e ovelhas entrem na área a ser restaurada e comam os brotos que podem nascer das “muvucas”, bolotas de esterco recheadas de espécies nativas, algumas endêmicas, que serão espalhadas pelo local).

Frágil mas com alta capacidade de regeneração, a Caatinga não tardou a recompensar a comunidade de fundo de pasto Melancia, em Casa Nova, um das primeiras contempladas pelo Recaatingamento.

Lá, também acontecem mutirões para coleta de sementes, produção de mudas nativas, trabalho no viveiro, entre outros serviços. O morador Thiago da Rocha, conta que o tatu e o jacu esperados por Joselina já reapareceram na Melancia.

“Hoje, temos umbuzeiros, umburanas, muitas aroeiras e até abelhas nativas nos ocos das árvores em um território grande, de 65 hectares”, acrescenta. Se tudo correr bem, ele espera que outros velhos moradores continuem retornando àquele pedaço revivido do sertão.

Texto publicado originalmente no site UOL

Lilian Caramel, colaboração para Ecoa, em Campo Formoso (BA)

Foto Lilian Caramel

DoDesign-s Design & Marketing

Realização:

Parceria:

Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA DoDesign-s Design & Marketing
» Recaatingamento. Bahia, Brasil . Telefone: (74) 3611-6481. Fax: (74) 3611-5385 . Acessar