Recaatingamento

dezembro de 2022

12/12/2022

Encontro expõe degradação da Caatinga

A Caatinga ocupa aproximadamente 11% do território nacional e 70% do Nordeste. O bioma é fonte de riquezas vegetais e animais, sendo que algumas espécies são exclusivas dessa região. A Caatinga é também um espaço por onde correm rios importantes, como o São Francisco, que nasce nas serras de Minas Gerais e corta o Semiárido para chegar à Mata Atlântica, onde encontra o mar. Mesmo diante da sua importância, a Caatinga vem sendo destruída por queimadas e, principalmente, pelo desmatamento causado pela implantação de grandes empreendimentos como os parques de energia solar, energia eólica e mineração, como foi debatido no encontro “Mudanças Climáticas: impactos e perspectiva no bioma Caatinga”, em Feira de Santana-BA.

Avaliando este cenário, Diêgo Costa, doutorando em Energia e Ambiente pela Universidade Federal da Bahia – UFBA, destaca que nos últimos 22 anos, a Caatinga vem sofrendo duras agressões, chegando a perder aproximadamente 10 milhões de hectares de área vegetal. No Território Sertão do São Francisco tem sido cada vez mais comum a derrubada da Caatinga para a geração da chamada “energia limpa”, que destrói a Caatinga de várias formas. Para Clérison Belém, representante da Articulação do Semiárido – ASA, esse modelo só fortalece a pobreza e a fome. Em consonância com Clérison, Luís Almeida, colaborador do Irpaa, aponta que “As principais ações que vêm degradando tanto a Caatinga, quanto o seu povo, são fruto de um modelo de desenvolvimento extremamente predatório e que só visa o empobrecimento do povo”.

Na contramão dos impactos causados pelas grandes empresas, as organizações da sociedade civil têm trabalhado opções de preservação e recuperação da Caatinga, tendo como ponto de partida as ações de Recaatingamento, Agrocaatinga e Educação Contextualizada. “O Recaatingamento tem cumprido um papel de fortalecer a organicidade local, de valorizar as potencialidades da Caatinga e subsidiar as famílias com conhecimentos a respeito da importância da vegetação”, destaca Luís.

Outra experiência que tem sortido bons efeitos é o trabalho de Agrocaatinga, que tem sido difundido pela Rede das Escolas Famílias Agrícolas Integradas do Semiárido – Refaisa. “Ao mesmo tempo que a gente pode produzir alimentos melhorando a nossa renda, melhorando a segurança alimentar e nutricional da família, estamos preservando a Caatinga”, relata Aurivan Santana, representando da Refaisa.

De acordo com Aurivan, a educação se apresenta como um caminho para contribuir na reversão do quadro de degradação pelo qual passa a Caatinga. A Educação Contextualizada “é uma das possibilidades para que a gente possa reverter o processo de degradação da Caatinga […] A Educação Contextualizada tem esse papel de discutir as problemáticas que existem no ambiente do estudante para que daí ele possa pensar em soluções”, defende Aurivan.

Texto e foto: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa

8/12/2022

Representante de ONG alerta que desertificação pode inviabilizar a vida de famílias no Semiárido

 

 

 

 

 

 

 

 

A desertificação vem avançando rapidamente no Brasil, onde 60% do território semiárido já foi atingido em algum nível pela desertificação.

A Caatinga, bioma que ocupa maior área na região, tem sido desmatada para atender ao crescimento das cidades, plantio de monocultura, mineração, instalação de parques eólicos e usinas de energia solar. Nos últimos 10 anos o desmatamento da Caatinga atingiu uma área equivalente ao tamanho de Portugal, ou seja, quase 50% do bioma está sendo afetado por processos acentuados de desertificação.

Nossa equipe conversou com Paulo Pedro de Carvalho, coordenador geral do Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não-Governamentais Alternativas – Caatinga, sediado em Ouricuri-PE. A instituição tem realizado trabalhos de preservação de áreas suscetíveis à desertificação, bem como recuperação de áreas degradadas e estimulado a produção sustentável.

Irpaa – O que é uma área em processo de desertificação ou desertificada? Quais características podem ser observadas?

Paulo Pedro – O processo de desertificação, como o nome está dizendo, é um processo. Não significa dizer exatamente que nós vamos chegar a um deserto, mas que as condições de vida nos ambientes em desertificação vão ficando cada vez mais difíceis e escassas. Começa pela degradação da mata, da vegetação, que por sua vez tem como consequência a degradação dos solos, das águas […] Vai diminuindo a fertilidade do solo, a biodiversidade das plantas e de animais que vivem naquele local e, consequentemente, afetando a vida das pessoas.

No Brasil acontece mais fortemente aqui no Semiárido brasileiro e em algumas áreas do entorno, nos nove estados do Nordeste brasileiro e mais boa parte de Minas Gerais e também parte do Espírito Santo, conforme está no Plano de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca.

Numa área em processo bem avançado de desertificação você percebe o solo descoberto, mesmo no período da chuva aquele solo já não consegue mais se cobrir totalmente, porque a terra já perdeu sua capacidade de regeneração e aí ficam aqueles verdadeiros descampados, onde a gente vê algumas plantinhas, mas já não tem mais aquela biodiversidade, inclusive as vezes aparece somente plantas rasteiras.

Irpaa – Qual o impacto de uma área desertificada para as famílias agricultoras?

Paulo Pedro – As famílias que moram naquela região praticamente não terão condições de viver, porque não vão conseguir produzir o principal, que é o alimento, nem gerar renda. Se a área [desertificada] for grande, vai ter um grande impacto sobre a vida das pessoas, do ponto de vista econômico, do ponto de vista de condições de vida, de produzir alimento, as mínimas condições para produzir agricultura e pecuária, o que normalmente provoca êxodo, a mudança dessas famílias para outras regiões que têm mais condições.

Irpaa – A desertificação também impacta no ambiente natural, a flora e a fauna nos arredores da área desertificada?

Paulo Pedro – Nas áreas em processo grave e avançado de desertificação, há toda uma consequência sobre a vida das plantas e dos animais que ali vivem. As águas vão cada vez mais degradar o solo, reduzindo bastante a biodiversidade das plantas existentes naquela região […] Há um impacto sobre todas as formas de vida existentes, vai colocando aquela área numa situação de difícil recuperação. É preciso uma ação humana muito forte e incisiva para começar a reestabelecer algumas condições de vida. Possivelmente aquela área não volte mais a ser o que foi anteriormente, antes de começar o processo de degradação ali naquela localidade.

Irpaa – O Semiárido é uma região com alto risco de desertificação. Quais elementos contribuem para o avanço da desertificação na nossa região?

Paulo Pedro – Começa com o desmatamento, as queimadas, os monocultivos, especialmente de capins, de gramíneas para o criatório de animais, para instalação de pastagens, especialmente para a criação de bovinos. Você retira toda uma biodiversidade de plantas da Caatinga, substituiu por capim e ainda, muitas vezes, se coloca uma quantidade excessiva de animais sobre aquelas áreas, que vai consumindo, se alimentando daquelas gramíneas, daquele capim e vai pisoteando aquele solo, deixando compactado, endurecido, o que inclusive dificulta a penetração da água no período que chove e facilita os processos de erosão desse solo.

Então, o desmatamento, a retirada da lenha, as queimadas, o manejo do solo com máquinas pesadas e de forma intensiva e ainda a grande utilização de agrotóxicos que termina também prejudicando a vida do solo. Esses são fatores principais. Somado a isso o processo de mineração que muitas vezes reviram o subsolo e utilizam a lenha da Caatinga de forma descontrolada, de forma irracional, para o processo de beneficiamento.

Irpaa – A população da cidade contribui para este processo? Como?

Paulo Pedro – Quando eles não têm uma ação de valorizar aqueles produtos que vêm de experiências de produção que não sejam degradadoras do meio ambiente. Tem o consumismo também. Às vezes as pessoas querem demandar quantidade maior de bens de consumo.
É preciso uma consciência geral das pessoas, tanto do campo, como da cidade, sobre o meio ambiente, sobre cuidar do meio ambiente, mesmo quem está na cidade pode dar sua contribuição valorizando os produtos que vêm de sistemas de produção agroecológica sustentáveis, como também diminuir mais o uso da água, o uso da madeira, de vários produtos que hoje são usados com grande intensidade. As pessoas precisam rever suas formas de vida, suas formas de consumo.

Irpaa – É possível recuperar uma área desertificada?

Paulo Pedro – Assim como a humanidade tem essa grande capacidade de destruir o meio ambiente, essa mesma humanidade tem também a capacidade de recuperar as áreas desertificadas. É preciso adotar as práticas de recuperação de áreas, de recuperação de solo, de semear sementes nas áreas, sementes que sejam adequadas à realidade daquela região. É possível! Claro que o melhor é prevenir, preservar, trabalhar de forma sustentável.

Irpaa – Como as políticas públicas e as demais ações governamentais poderiam auxiliar na contenção da desertificação?

Paulo Pedro – Já tem algumas políticas e planos que foram construídos, inclusive alguns deles em diálogo com a sociedade civil, como o Plano de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca, como também os planos estaduais. Temos 11 planos estaduais dos nove estados do Nordeste, mais Minas Gerais e Espírito Santo. Mas elas [as políticas] estão apenas no papel. É preciso tirar o papel. Esses planos preveem ação de educação, ação de assistência técnica agroecológica […] e também investir em infraestrutura, financiamento para as famílias poderem montar as infraestruturas adequadas para elas continuarem produzindo, sem destruir o meio ambiente […] Outro apoio importante que as políticas públicas devem dar é auxiliar as famílias produtoras e suas organizações a venderem bem seus produtos.

Irpaa – O que a sociedade civil tem feito para contribuir para a resolução deste problema?
Paulo Pedro –
Podemos citar um programa muito importante, que mudou a região semiárida em torno de duas décadas, que foi o programa da ASA [Articulação Semiárido Brasileiro] em parceria com o Governo Federal, governos estaduais, organizações internacionais, com empresas: o Programa de Formação e Mobilização Social para Convivência com o Semiárido.

O programa P1MC [Programa Um Milhão de Cisternas] que já beneficiou mais de 5 milhões de pessoas, mais de 1 milhão de famílias. O Programa da segunda água, P1+2, [Programa] Uma Terra e Duas Água, que trazia tecnologias de captação de água para produção de alimentos e geração de renda para as famílias. O programa sementes, Cisternas nas Escolas…

Essa é uma forma de política que a gente defende, que acredita e que realmente faz diferença na vida das diversas pessoas e comunidades espalhadas por todos esses territórios do Semiárido brasileiro. Quando a sociedade civil dialoga com os órgãos públicos para fazer aquilo que realmente precisa ser feito e necessita ser feito, cuidando bem das pessoas e do meio ambiente promovendo o desenvolvimento das regiões.

Irpaa – O que agricultoras e agricultores devem fazer para evitar a desertificação
de suas áreas?

Paulo Pedro – As famílias agricultoras estão no centro desse processo de ações e de necessidade de fazer a reversão e a prevenção sobre a desertificação. As famílias podem avançar ainda mais na troca, na construção de conhecimentos, conhecendo as experiências agroecológicas, procurando não desmatar mais, aproveitar melhor e recuperar a fertilidade das terras que hoje já estão desmatadas, usar tecnologias adequadas que ajudem a manter a fertilidade do solo, a manter água no solo, evitar a erosão, manter os solos cobertos com vegetação e também com matéria orgânica, fazer diversas práticas e montar tecnologias de estocagem de água, estocando rações para os animais, estocar sementes […] Lutar por políticas públicas adequadas, no nível dos municípios, no nível dos estados e também no nível federal. Outra coisa que os agricultores e agricultoras podem fazer é se organizar cada vez mais em redes, em associações, em sindicatos para cobrar, para ajudar a construir políticas públicas adequadas, inclusive nos processos eleitorais procurar identificar candidatos, tanto ao legislativo como ao executivo, que defendam essas propostas de valorização da agricultura, de valorização da agroecologia e de multiplicação e valorização dessas experiências que já demonstraram que é possível produzir cuidando do meio ambiente, cuidando das pessoas e, principalmente, gerando alimento de qualidade para as pessoas do campo e da cidade, também gerando renda digna para essas famílias.

Foto: Celso Tavares/G1

 

5/12/2022

CARTILHA: Experiências de Recaatingamento no Semiárido Brasileiro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa) elaborou esta cartilha reunindo diversas experiências populares de Recaatingamento, de base agroecológica e com enfoque na Convivência com o Semiárido, mostrando a diversidade biológica, de solos, relevos, culturas e métodos aplicados por agricultoras e agricultores.

Esta sistematização conta com o apoio do Projeto Bem Diverso, que é fruto de uma parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com recursos do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF).

 

Acessar Online (PDF)

 

2/12/2022

Experiência de Recaatingamento é socializada durante Seminário Nacional de Experiências Agroecológicas

 

 

 

 

 

 

 

 

Com o intuito de compartilhar os resultados da experiência de Recaatingamento desenvolvida em uma comunidade localizada em Campo Alegre de Lourdes, na Bahia, o Irpaa participou de uma das sessões virtuais dentro da programação do Seminário Nacional de Experiências Agroecológicas, organizado pelas entidades da sociedade civil, em parceria com o projeto Avaclim, Instituto Nacional do Semiárido (INSA) e universidades.

O projeto de Recaatingamento teve início, no ano de 2009, em sete comunidades de Fundo de Pasto nos municípios de Canudos, Casa Nova, Curaçá, Sobradinho, Sento Sé, Uauá e Juazeiro. Depois, as comunidades de Fundo de Pasto dos municípios de Pilão Arcado, Remanso e Campo Alegre de Lourdes também passaram a ser contempladas pela prática. Os principais objetivos da ação de recaatingar é recuperar áreas degradadas e conservar outras áreas já existentes na Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro, contribuindo para reduzir a devastação e os processos de desertificação. Em 2018, o projeto foi um dos vencedores do Prêmio BNDES de Boas Práticas para Sistemas Agrícolas Tradicionais. O Irpaa recebeu R$ 70 mil, recurso que foi destinado para o investimento direto nas 11 áreas de recaatingamento.

O método é aplicado em diferentes etapas. Primeiro, é identificada, junto com a comunidade, a zona onde a terra está degradada, seja por queimada, desmatamento, pisoteio de animais ou outras ações externas. A área identificada é isolada para serem realizados os processos de recuperação de solo, controle de erosão, dispersão de esterco e sementes e o plantio de mudas. Já na área que não sofreu degradação, para impedir esse processo é feito um levantamento de fauna e flora e um plano de manejo para avaliar a capacidade de suporte animal.

No seminário, durante a sessão virtual “Interconexões entre territórios e agroecossistemas: espaços de vida, reexistências e recriações”, a experiência socializada pelo Irpaa foi a da comunidade Lagoa do Sal, em Campo Alegre de Lourdes (BA), que iniciou o recaatingamento após a queima de uma área que ocasionou a perda de animais e plantas. Agostinho Neto, colaborador do Irpaa que atua no município, explicou como se dá o processo de recaatingamento. “Pega-se uma área na comunidade para conservar ou recuperar, isola ela, onde os animais não têm acesso a essa área por um bom tempo, e aí a gente vê a vida rebrotando, renovando. A gente já teve presença de alguns animais que as pessoas relatam que não viam mais”, disse.

Nesse processo de recuperação das áreas degradadas, são iniciadas atividades produtivas através do plantio de plantas nativas como o umbuzeiro, por exemplo; e da apicultura e meliponicultura, já que essas zonas passam a servir como locais de pasto para as abelhas, produzindo mel, cera e própolis. Tais atividades estimulam o processo de regeneração da terra e também geram renda para as famílias das comunidades onde a prática do recaatingamento é inserida. Durante a sessão virtual, Juraci Batista Alves, morador da comunidade Lagoa do Sal e presidente da associação de fundo de pasto local, destacou as melhorias observadas na produtividade, principalmente através da apicultura. “No ano passado, nós tivemos uma renda de 374 quilos de mel. Deu R$ 2.780 reais. Foi dividido para o grupo que trabalha [na área de] recaatingamento”, relatou.

Nas comunidades, a aplicação do projeto de recaatingamento é feita em constante parceria entre equipe técnica e moradores/as, que por meio de visitas a áreas já recaatingadas passam a conhecer de perto o método e os benefícios gerados para a região. Joana Maria de Jesus, integrante da associação de fundo de pasto de Lagoa do Sal, viu a área, antes devastada, ser recuperada. “Depois que deu uma chuva, já tá nascendo algumas árvores. E a gente se animou, se alegrou mais. A comunidade, vendo isso, teve mais força para lutar e melhorar a área de fundo de pasto”, pontuou durante o seminário virtual.

Texto: Comunicação Irpaa
Fotos: Equipe técnica do projeto/Reprodução Google Meet

 

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